sábado, 2 de julho de 2011

Era uma vez...

O LIMPADOR DE CHAMINÉ
Hans Christian Andersen
Por acaso você já viu um desses armários antigos, todos negros de velhice, com espirais e flores esculpidas? Pois era exatamente um desses armários que se encontrava no aposento: ele vinha da trisavó e décima até embaixo era ornado de rosas e tulipas esculpidas. Mas o que havia de mais estranho, eram as espirais, de onde saíam pequenas cabeças de veado com seus grandes chifres. No meio do armário via-se esculpido um homem de singular aparência: fazia uma careta, pois não se podia dizer que ele sorria.
Tinha pernas de bode, pequenos chifres na cabeça e uma longa barba. As crianças o chamavam de o Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode, nome que pode parecer longo e difícil, mas um título com o qual, poucas pessoas foram honradas até hoje.
Enfim, ele estava lá, com os olhos sempre fixos no consolo colocado sob o grande espelho, em cima do qual estava posta uma graciosa pequena pastora de porcelana. Ela usava sapatos dourados, um vestido enfeitado com uma rosa viçosa, um chapéu dourado e um cajado: era encantadora. Ao lado dela estava um pequeno limpador de chaminés, negro como carvão, e de porcelana também.
Ele era muito bonito, pois na realidade, não era senão o retrato de um limpador de chaminés. O fabricante de porcelana poderia ter feito dele um príncipe, o que teria sido a mesma coisa. Mantinha graciosamente sua escada sob um braço e seu rosto era vermelho e branco como o de uma moça; o que não deixava de ser um defeito que se poderia ter evitado colocando nele um pouco de preto. Ele quase tocava a pastora: tinham-nos colocado ali e eles ficaram noivos. Assim, um combinava com o outro: eram dois jovens feitos da mesma porcelana e todos dois igualmente fracos e frágeis. Não longe deles havia uma outra figura três vezes maior: era um velho chinês que sabia balançar a cabeça. Também era em porcelana; acreditava ser o avô da pequena pastora, mas nunca pudera prová-lo.
Afirmava ter todo o poder sobre ela e foi por isso que respondeu com um amável inclinar de cabeça ao Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode, quando este pediu a mão da pequena pastora. “Que marido você terá ali!”, disse o velho chinês, “que marido! Creio mesmo que ele é de acaju. Fará de você a senhora Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode; tem seu armário cheio de pratarias, sem contar o que tem escondido nas gavetas secretas”.
- Jamais entrarei naquele armário sombrio - disse a pequena pastora - ouvi dizer que ele tem lá dentro onze mulheres de porcelana.
- E daí? Você será a décima segunda. - disse o chinês.
- Esta noite, quando o velho armário começar a estalar, realizaremos o casamento, tão certo como eu ser um chinês.
E ao dizer isso ele balançou a cabeça e adormeceu. Mas a pequena pastora chorava fitando, o seu bem-amado limpador de chaminés.


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